Qual o projeto de país definido pelo arcabouço? *Gilberto Maringoni* outraspalavras.net/mercadovsd… Leia com atenção!

Ano passado from Roberto Requião's Twitter via Twitter for iPhone



Página IncialArtigos e discursosDiscurso de Roberto Requião na Convenção Nacional do PMDB. Brasília 12 de junho de 2010.

Discurso de Roberto Requião na Convenção Nacional do PMDB. Brasília 12 de junho de 2010.

Apresento-me a esta Convenção na qualidade de filiado número um do velho MDB de guerra do Paraná. Nelson Rodrigues dizia que toda unanimidade é burra, assim venho aqui trazendo o oxigênio da diversidade e da liberdade de discordar.
Venho não por mim. Estou seguro, e os números de uma recente pesquisa interna garantem, que represento aqui a maioria avassaladora dos congressistas, que anseiam ver o partido disputar a Presidência da República com o seu próprio candidato.
Venho a esta Convenção, não por minha candidatura. Há no PMDB boa quantidade de companheiras e companheiros da melhor cepa, plenamente aptos a encabeçar o partido e oferecer aos brasileiros um outro caminho.
Venho a esta Convenção, não porque discorde da aliança à esquerda que se propõe. Podemos bem mais que a reafirmação mediana dos desvios que mantém o nosso país dependente, patinando nas possibilidades, sempre às vésperas do futuro.
Venho a esta Convenção, não para discursar ou ouvir discursos. Quero o debate. Quero o terçar inteligente, agudo, criativo das idéias. Que se desabrochem propostas, que se rivalizem escolas de pensamento.
Venho a esta Convenção, não para, meramente, discordar da vice candidatura que se oferece. Embora a coadjuvação seja muito pouco para o maior partido do país, o que me toca, mobiliza, impulsiona é a falta de um Programa para o Brasil. No que se respalda a aliança se ela não se fundamenta em um Programa?
É por isso que venho a esta Convenção.
Venho a esta Convenção sobretudo para debater idéias que se encontrem com outras idéias e que construam um Programa para o Brasil.
Não venho a esta Convenção para diminuir o trabalho da Fundação Ulysses Guimarães, que correu o país recolhendo sugestões para um programa peemedebista. Mas qual o resultado do périplo? Mas qual a conseqüência objetiva desse trabalho todo? Se saúdo a boa intenção, não vejo como assumir compromissos com o resultado.
Por que não posso assumir compromissos com o resultado do trabalho da Fundação Ulisses Guimarães?
Porque a reiteração, em linhas gerais, das políticas vigentes do partido condutor da aliança, mesmo que se pincelem piedosas observações críticas, não é um Programa do PMDB para o Brasil. Na arca desta aliança não vejo os mandamentos que vão nos guiar com segurança para o país prometido.
Mais uma vez, em mais uma campanha presidencial, vamos ser cabresteados pelo programa dos outros? Pior, nem sequer fizemos auto-crítica dos programas que compartilhamos, em pelo menos três eleições, com o partido daquele que é o principal adversário da frente em que hoje nos abrigamos. Tanto pragmatismo, sem nenhuma ideologia, decepciona, desanima.
Talvez alguém possa reptar, dizendo que naquelas três vezes em que o galo engasgou, o programa não era nosso. E agora, é?
Não há como negar os avanços do país nos últimos sete anos e seis meses. Avanços na diminuição da pobreza, na redução da mortalidade materno-infantil, nos índices da saúde, da educação, em ciência, tecnologia e pesquisas. Os grandes avanços em infra-estrutura, conquanto as deficiências sejam ainda gigantescas, tal a incúria dos governos anteriores, aos quais, nunca é demais lembrar, estivemos sempre aliados, fomos base de apoio.
Como não se desmerecem os avanços na política externa, praticada com altivez pelo atual governo. De alinhado incondicional das grandes potencias, a um país menos submisso, menos cordato, desafiador da lógica imperial.
Seria portentoso se essa altanaria que circula no Itamarati contaminasse a política econômica, inoculasse na Fazenda e no Banco Central anticorpos contra a dependência, o servilismo, a sujeição ao mercado.
Ao mesmo tempo em que encaramos, provocamos fissuras na dita ordem natural das coisas na política internacional, ao mesmo tempo em que avançamos na construção de uma nova solidariedade latinoamericana, não resistimos ao surrado, desmoralizado receituário do FMI.
É isso mesmo. Eis o velho e satânico Dr. No de volta.
O fato de não precisarmos recorrer ao Fundo Monetário Internacional para garantir compromissos com credores, não significa que estamos livres de suas famigeradas prescrições. As medidas de há pouco, cortando investimentos públicos, tardando o ritmo das obras de infra-estrutura, aumentando os juros para desestimular o crédito vieram depois de um alerta do Fundo sobre o aquecimento excessivo da economia brasileira.
A oportunidade do Brasil crescer além de seis por cento, uma taxa mediana caso se leve a sério a tarefa de remir o país do atraso, deixa os jornalões, os contacorrentistas da subordinação ao capital financeiro com urticária. Porque o crescimento deve ser como sempre foi, para poucos. Nada pode escapar do rígido controle dos dominantes. Se não existe como satisfazer a demanda, corte-se a demanda. E contra esse extermínio das possibilidades, da parte do PMDB, até agora, um silêncio cúmplice.
E o que demandam os mais pobres, agora promovidos a consumidores? Examinem a lista de compras deles e vejam como são modestas, singelas suas aspirações. Não querem mais que alguns bens que tornem a vida mais confortável, mais prazerosa, mais feliz.
À medida que criam dificuldades para a realização de desejos tão simples, estão sugerindo que os pobres já tiveram sua cota, já comeram o suficiente e que a insistência deles em consumir só atrapalha o bom desempenho dos ditos fundamentos macro-econômicos. Que os pobres então….ora os pobres.
A velha pergunta latina, tão apreciada pelos causídicos, impõe-se: Cui Prodest? A quem interessa a perpetuação dos preceitos neoliberais? Quem ganha com isso? Nem o país, nem os mais pobres. Aqueles 30, 40 milhões de brasileiros que dizem retirados da miséria e guindados à classe média, logo voltarão à fila da sopa, caso não haja mudanças estruturais, de conteúdo, substantivas, radicais na política econômica, subordinada esta, evidentemente, a uma nova concepção de Brasil.
Na encruzilhada de nossos destinos, mais uma pergunta não se emudece: o que somos, um mercado ou uma Nação? Uma Nação para os nossos ou um país para os outros? Com um Programa dos outros, continuaremos a ser um país para os outros, para o proveito do mercado.
Ao longo de nossa história, na conquista do território, a Nação se consolidou com o suor e o sangue do nosso povo, e com o cimento do amor e da solidariedade. O mercado se suporta única e exclusivamente na idéia do lucro, da jogatina das bolsas, levando à falência países inteiros, e ao desemprego milhões e milhões de pessoas. A doutrina do mercado e seus devotos lançaram o mundo na crise, que se irradi
ou a partir dos Estados Unidos. E não é isso o que queremos para o Brasil.
Não vejo, substancialmente, divergência entre os corifeus do dependentismo e os atuais feitores da política econômica. A pedra de toque é a mesma. Não é porque o alquimista mude um que outro ingrediente que o resultado final apresente-se diverso. O eufemismo não muda a qualidade do ente.
Algumas vezes, deixando-me envolver por doses generosas de otimismo, concedendo ao meu amigo presidente Lula toda boa vontade possível, e valendo-me dos ensinamentos do mestre Guerreiro Ramos, reflito: são os percalços do caminho, são os prazos da vida, é a natureza processando as transformações. O novo não nasce ex-abrupto do velho. A obsolescência do velho é acompanhada do surgimento do novo. Talvez seja isso o que esteja acontecendo, quero ser otimista.
No entanto, não há espaço para o espontaneísmo na natureza das coisas. Do nada, nada surge. E os mecanismos que fazem a vida girar não são uma questão de fé, de boa ou má vontade. Para que nasça o novo, é preciso que ele seja gerado, cultivado, protegido, alimentado. E não vejo nada de novo brotando nesta fertilíssima Terra de Santa Cruz.
Os principais disputantes presidenciais esforçam-se, acotovelam-se para ver quem será eleito o mais confiável pelo mercado. Primeiro buscam o nihil obstat do mercado, para depois angariar o voto popular.
O PMDB poderia ser o novo. Por sua história, por sua força de maior partido brasileiro, por suas características de partido desvinculado do grande capital, de partido das classes populares, como reza o nosso estatuto. Poderia. Mas teima, seguidamente, renunciar a primazia, embora quase sempre se apresente como um Esaú envergonhado da renúncia, constrangido pela repetição da fuga.
Este não é o PMDB do nosso presidente de honra Paes de Andrade, este não é o PMDB do senador Pedro Simon, este não é o PMDB de nossas bases que, consultadas 24 vezes em 24 estados pelo deputado Padilha, responderam à unanimidade: o nosso PMDB quer candidatura própria à Presidência da República.
Pelo que se viu até o momento – estamos a pouco mais de cem dias da eleição- esta deve ser uma das disputas menos ideologizada, menos politizada, de todas havidas. O que se debate? Não se debate. Fica aí um espicaçando o outro. Nada de substancioso, de essencial para a construção dos destinos nacionais. Nenhum pensamento, nenhuma proposta estratégica. Apenas movimentos táticos, orientados pelo oportunismo eleitoral. Aliás, noções como estratégia e tática desapareceram da preocupação dos partidos. Não se pensa, não se planeja, não se definem os grandes objetivos e como conquista-los. O imediatismo, o dia seguinte cega, ofusca a visão de futuro.

Essa renúncia ao pensar, essa fuga ao debate é o melhor aliado com o que os interesses transnacionais poderiam contar. O medo, as superstições, as crendices, como se sabe, são produto da ignorância. Assim, como não se debate, como não se pensa, alguns postulados do mercado, que não passam de sofismas, de trapaça, de fraude mesmo acabam se impondo como verdade, como dogma.
Contrapondo às máximas do mercado e sua busca alucinante pelo lucro imediato e abundante, devemos apostar na produção nacional, no mercado interno, na inovação, no de trabalho e criatividade de nossa gente. Apostar na nossa possibilidade de sermos protagonistas, condutores de nosso destino, senhores de nossa história. Longe vá temor servil.
A grande contradição do momento é a contradição do trabalho e do capital produtivo versus o capital vadio, o capital explorador e financeiro, que não produz um botão, uma camisa, a peça de uma máquina, mas que escraviza as populações, comandando os bancos centrais para a perpetuação da sua dominação e dos seus lucros.
Contrapondo aos dependentistas, o desafio de consolidar e comandar o Bloco Sul-Americano, fazendo com que o nosso país desponte e se firme entre as grandes nações do planeta.
Trago aqui uma proposta singela, como também singela era a proposta de Alexander Hamilton, secretário de Tesouro do primeiro presidente norte-americano, George Washington, condensada no “Tratado das Manufaturas”, que deu as bases para o desenvolvimento industrial dos Estados Unidos e orientou suas relações com os países colonialistas.
Vamos também dizer aos nossos empresários que acreditamos neles, como acreditamos na infinita capacidade de trabalho e de criatividade de nosso povo.
Companheiras e companheiros.

Não vim a esta Convenção para contestar, protestar. Não vim para o jogo da molecagem, mas vim com o Pedro Simon, com Paes de Andrade e companheiros históricos de nosso partido, trazer oxigênio, eliminar a farsa da unanimidade que se construiu em cima da impossibilidade da discussão, do falseamento das convenções. Não vim para protestar, contestar. Vim a esta Convenção para propor o debate, para, como na antiga Àgora grega, fazer falar a voz do povo.
Vai ser difícil.
A Convenção foi convocada para aprovar a coligação e o nome do vice-presidente. O Diretório Nacional ofereceu passagens e paga as hospedagens. Não tivemos a oportunidade do debate. Mas, como dizia Otto Maria Carpeaux, a democracia é isso, é o regime que procede pela opinião da maioria. Embora, para que houvesse democracia partidária, faltasse o seu verdadeiro conteúdo. Porque, se a democracia procede pela opinião da maioria, o seu conteúdo é a liberdade, a liberdade das minorias se expressarem, e através da palavra e do convencimento se transformarem em maioria também.
Além da impossibilidade, que nos foi proporcionada pela inscrição do nosso nome à última hora, o Pedro, o Paes e os companheiros optamos por não trazer uma faixa, uma ridícula fotografia colorida, mas trazer para a convenção a palavra, as idéias e a fé de que a política não começa e não se encerra na convenção do partido.
Este é o PMDB, e se ele vem à Convenção sem proposta e sem programa não é aqui que se dará o fim da nossa história, não é o começo, também não é o fim da prática política do velho MDB de guerra.
Sustento em condições difíceis esta candidatura, e me lembro que, muito moço, ainda nos bancos do Colégio Estadual do Paraná, em Curitiba, imaginei que poderia ter um papel na política de meu país, e que a militância de cada cidadão era importante, para mudar as condições da vida do povo explorado. Hoje, com 69 anos, estou muito velho para desistir do sonho acalentado no ardor juvenil.

O Governo Lula, é excepcional na política social. Contudo, depois da grande crise do mensalão, restou absolutamente dominado pelo mando do capital, capitaneado pelo Banco Central. Que sugestão, que op&cc
edil;ão poderia, então, de uma forma prática, pragmática como se costuma fazer agora na política brasileira, oferecer, se não esta? Quem manda no Brasil é o Banco Central. Logo, vamos eleger, diretamente, o presidente do Banco Central. E o presidente do Banco Central que indique o presidente da República, para ser aprovado pelo Senado Federal.
A situação é ridícula assim, mas a nossa posição é de enfrentamento. Agora, ontem e sempre.

Obrigado, companheiros.