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Requião desnuda as mentiras e a mediocridade do “jornalismo econômico”

Na sessão plenária desta quinta-feira (14), o
senador Roberto Requião analisou a cobertura do
“jornalismo econômico” aos principais acontecimentos da
área no país. O senador mostrou que há uma tradição
desse setor jornalístico de alinhamento com o governo e o
mercado. E que, para ter visão isenta sobre os fatos da
economia, os brasileiros precisam recorrer à imprensa
independente.
A seguir, vídeo e texto com o pronunciamento.

Um dos efeitos colaterais das crises é a
reintrodução no palco de pessoas que, pela sua
atuação calamitosa em enredos anteriores,
mergulharam no anonimato, deixaram de ser
lembradas, citadas, ouvidas. Transformaram-se em
fantasmas, invisíveis. A mídia, os políticos, os
governantes passavam por elas como se elas não
existissem. A lembrança do desempenho infeliz
constrangia todos.
Mas nada como uma crise depois de outra.
Confiantes na desmemoria popular, mídia, políticos
e governantes redimem esses avejões e fazem-nos
falar como se eles tivessem algo a dizer,
contribuições a dar para o desatamento do nó.
Pois não é que até mesmo o ex-genro, o David
Zyberstajn, foi convocado a opinar sobre a crise dos
preços do combustível?
Mas, confesso que, desta vez, senti falta da
opinião dos irmãos Mendonça, do André Lara
Rezende, do Pérsio Arida, do Gustavo Franco, dos
há tempos desaparecidos Mailson da Nóbrega e
Pedro Malan, do Armínio Fraga.
Que seja dito, a última vez que ouvi uma notícia
sobre Armínio Fraga foi quando Temer atendeu a
Globo e decretou a intervenção no Rio. O então
ministro da Defesa, depois catapultado ao tal
Ministério da Segurança, o sempre disponível Raul
Jungmann, anunciou que pretendia contar com a
assessoria de Fraga no combate à criminalidade do
Rio.
Fiquei encafifado: qual seria o papel de Armínio
Fraga no combate ao crime organizado ou
desorganizado nos morros cariocas?
A única coisa que me ocorreu foi que Jungmann
queria contar com a experiência do agente de
George Soros para promover um ataque especulativo
no preço das trouxinhas de cocaína, desestabilizando
o coreto dos traficantes.
Não fosse isso, o que seria?
Ah, sim! Já que ninguém foi ouvir o FHC sobre a
crise do óleo diesel, o sociólogo ofereceu um artigo
aos baluartes da mídia direitista, o “Globo” e o
“Estadão”, um artigo, registre-se, onde, de novo,
nada disse.
Sou jornalista, diplomado há mais de 50 anos.
Naquele tempo, para a produção de uma boa
reportagem, para a redação de uma boa mateira você
deveria contar, antes de tudo, com os seus próprios
conhecimentos. E esses conhecimentos eram
esteados, alicerçados pela sua formação intelectual e
pelas pesquisas que você fazia sobre o assunto dado.
E não havia a facilidade do Google.
Hoje não. Hoje, o socorro do jornalista para a sua
ignorância são os tais especialistas. Qual seja o
tema, lá vai o repórter ouvir o especialista, o esperto,
que deita platitudes enlatadas quer sobre a formação
dos preços do óleo diesel quer sobre a melhor receita
para uma salada de tomate.
Enfim, o repórter, seja de rádio, tv, jornal, revista
ou de blogs não pensa, não formula, não questiona:
o repórter nada mais é que a escada para a opinião
do especialista.
Esses dias, por exemplo, a Folha de S. Paulo, a
inefável, saiu à cata de especialistas para saber se a
capinha que envolve o celular prejudica o sinal do
aparelho.
Às vezes, o caldo entorna, especialmente em
entrevistas ao vivo, no rádio e na tv.
Sempre à procura desesperada por especialistas e,
talvez, não querendo repetir os de sempre, alguns
convidados escapam do filtro e temos então uma
Mônica Waldvogel ou uma Renata Lo Prete
confusas, irritadas e estupefatas porque o
entrevistado divergia radicalmente dela e da Globo.
Mas isso é raro e dificilmente se repete.
Nos anos do chamado “milagre econômico”, na
década de 70, sob o regime militar, entrou na moda
uma nova especialidade de nossa imprensa, o
“jornalismo econômico”.
Só que os nossos repórteres, os analistas e
colunistas “econômicos” nasceram com a boca torta:
a notícia econômica só tinha um lado, o lado do
governo e do mercado, o que dava no mesmo.
E não era por causa da censura imposta pela
ditadura aos meios de comunicação. Na verdade, não
havia contradição entre a linha editorial da mídia e a
linha da política econômica da ditadura.
Naquele tempo, se você quisesse uma análise
isenta e crítica da política econômica do “milagre”,
você precisava ler a chamada “imprensa alternativa”,
o “Opinião”, o “Movimento”, os “Cadernos do
Terceiro Mundo”, e mesmo “O Pasquim” e “O
Lampião”. E outras efêmeras publicações que
apareciam e desapareciam ao sabor da censura e ou
da penúria de seus editores.
Mesmo com os chamados “choques do petróleo”,
1974 e 1978, que explodiram o balão do “milagre”,
e, na sequência, com a “crise da dívida externa”, a
pá de cal sobre o cadáver do regime e de sua política
econômica, nem nessas circunstâncias dramáticas o
“jornalismo econômico” de nossa gloriosa mídia
comercial deixou de ser chapa branca.
Para ela, havia apenas duas fontes: o governo e o
mercado.
Aquela história de ouvir o outro lado, artifício da
grande mídia quando ainda se dizia independente,
quando tentava ainda manter algum verniz de
civilidade, essa história de ouvir outro lado foi-se. O
outro lado que se lixasse.
Nas décadas de 70, 80 e parte dos anos 90, além de
não ouvir a opinião divergente, o “jornalismo
econômico” desconhecia a existência de “agentes de
mercado” que não fossem os porta-vozes de bolsas,
corretoras, investidores e banqueiros.
Por exemplos, trabalhadores, consumidores,
líderes sindicais, donas de casa, enfim, o homem
comum, os homens das ruas simplesmente não eram
considerados e levados em conta como uma força
ativa, que atua, opera, influencia, decide. Não eram
reconhecidos como, também “agentes do mercado”.
E isso era tão dominante que alguns jornalistas,
hoje lideranças reconhecidas da imprensa
independente, também tiveram suas bocas e penas
moldadas pelo pensamento econômico único.
Talvez, por essa época, fosse possível descolar
“Jornal do Brasil” da mídia comercial.
Integrante da grande família, o JB buscava certo
equilíbrio, uma distância sanitária de seus confrades.
Por exemplo, enquanto a mídia paulista cobria
timidamente a greve de 78, o “Jornal do Brasil”
abria-lhe espaços generosos.
E, de todo modo, existe uma diferença importante
a registrar: àquela época não havia ativismo
mercadista ardoroso, apaixonado que há hoje entre
os nossos jornalistas, analistas e colunistas
econômicos. Se houvesse entusiastas pelo mercado,
a paixão era discreta, contida ou até mesmo
envergonhada.
Hoje, como a crise recente demonstrou, o
“jornalismo econômico” pátrio foi definitivamente
incorporado pelo mercado, pela banca, pela
globalização financeira, pelos interesses dos grandes
conglomerados nacionais e multinacionais. As
editorias de economia são meros apêndices, simples
departamentos, ecos da voz do mercado. E nessa
radicalização militante, eliminaram manuais de
redação, códigos de conduta e de ética ou qualquer
norma que garantisse um mínimo de moralidade ou
de equilíbrio, mental e emocional, na divulgação dos
fatos.Temos, assim, por exemplo, as Organizações
Globo assumindo com a fúria dos fundamentalistas a
defesa de Pedro Parente e de sua política de preços
dos combustíveis.
Fiquei impressionado, aturdido, estupefato com o
radicalismo, a parcialidade e a desonestidade dos
argumentos dos “analistas econômicos” nessa crise.
Não vou citar nome. Todos sabem quem são.
E vêm aí alguns novidadeiros ou desocupados,
pascácios talvez, a falar em “fake news”.
Ultimamente, alguns juízes de tribunais
superiores ou de primeiras instâncias, além do nosso
glorioso Conselho de Comunicação Social, têm
insistido neste tema: notícias falsas.
Mas, pergunto às excelências ou às não
excelências se omitir notícias, mentir, trapacear,
embaralhar as informações, distorce-las não é
também “fake news”?
Essa atuação escandalosa protagonizada pela tal
da “grande mídia “ brasileira na crise recente,
alinhando-se claramente a um partido, o partido do
mercado o partido das petrolíferas internacionais,
pouco se lixando para a soberania nacional, para os
consumidores, essa ideologização do tema não é
também uma forma de “fake news”?
Ou, senhores juízes, ilustres membros do
Conselho de Comunicação do Congresso as “fake
news” têm também “parti pris”, como certas
decisões de nosso Judiciário?
Ah, dessa enxurrada toda de notícias falsas, de
meias verdades, de mentiras e distorções, o que mais
me encantou foi aquela “especialista” que botou a
culpa da crise nos ex-presidentes Lula e Dilma
porque facilitaram aos brasileiros a compra de
caminhões……
Não! De forma alguma! Jamais! A culpa não é da
recessão, da queda da produção e, em consequência,
da queda da demanda por fretes.
Nada disso! A culpa é de D. João, o futuro
Sexto, que abriu os portos e aumentou o número de
procura por carroças para o transporte das
mercadorias.
Para mim, essa asneira da tal especialista,
veiculada como arauto da verdade suprema pela
nossa mídia comercial, sintetiza a qualidade da
cobertura da greve dos caminhoneiros.
Essa senhora poderia também dizer que a culpa do
desabastecimento foi dos brasileiros, que ficaram
mal-acostumados, fazendo três refeições diárias.