Qual o projeto de país definido pelo arcabouço? *Gilberto Maringoni* outraspalavras.net/mercadovsd… Leia com atenção!

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Página IncialArtigos e discursosA mentira tem pernas curtas

A mentira tem pernas curtas

Se pretendesse dar nome para este pronunciamento, se fosse o caso, escolheria algumas denominações, todas elas, inspiradas em ditados. Por exemplos: “De como fazer cortesia com o chapéu alheio”; ou “É mais fácil dizer que fazer”; “Mentir grande ou mentir pequeno, tudo é mentir”; “Pecado confessado, meio perdoado” ou ainda “Quem com lobo anda, aprende a uivar” por fim, o popularíssimo “A mentira tem pernas curtas”.
Dados os possíveis títulos ao meu discurso, vamos à fala.
Quando fui governador do Paraná pela primeira vez, entre 1991 e 1994, para revigorar a cultura do café, do que o Paraná fora o maior produtor do Brasil, desenvolvemos uma nova forma de plantio, o café adensado.
Em vez dos antigos métodos de cultivo, com largo espaçamento entre um e outro pé de café, passamos a adensar, a compactar o plantio, como forma de proteger a sensível rubiácea dos rigores do clima, das tão fatídicas geadas; como forma de aumentar a produtividade; como forma de selecionar e aprimorar as variedades cultivadas; como forma de tornar mais eficiente o uso da mão-de-obra; como forma de tornar viável o cultivo do café nas pequenas propriedades.
O programa foi um sucesso. É um sucesso. Hoje, o café adensado representa 55 por cento da área de café cultivado no Paraná. Essa forma de plantio não só recuperou a nossa cafeicultura como resultou na produção de variedades cuja qualidade equipara-se à das melhores marcas mundiais.
Pois bem. Esse programa começou no segundo ano de meu primeiro governo, em 1992. E, como sabemos, um pé de café produz plenamente depois de cinco anos do plantio. Logo, foi só na safra de 1966-67 que os nossos agricultores colhem a primeira safra do plantio adensado. Uma colheita gratificante. O programa dera certo.
Nessa época, governava o Paraná o senhor Jaime Lerner. Homem fissurado em marketing, em propaganda –tanto assim que gastou dois bilhões e quinhentos milhões de reais em publicidade quando governou o Paraná—louco por uma publicidade, sua excelência não teve dúvida: botou no ar um comercial falando sobre o fantástico resultado da técnica do café adensado, atribuindo-se o feito.
Ora, como ele assumira em 1995, e um pé de café leva cinco anos para produzir, era uma grossa fraude atribuir o êxito do programa ao seu governo. Diante da intensidade da fanfarra que proclamava o milagre cafeeiro de sua excelência, o PMDB decidiu recorrer ao Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária, o CONAR, denunciando o Governo do Paraná por propaganda enganosa. E o CONAR recomendou a retirada do comercial do ar.
O tempo passa, o tempo voa e a esperteza não se cansa de ser esperta. Pois não é que meu outro sucessor, agora o governador do Paraná Carlos Alberto Richa, repete a astúcia?
Depois de um ano de absoluta apatia, de indolência entroniza-se como o governador do crescimento industrial, o governador dos recordes na geração de empregos, o governador dos Centros de Referência em Educação Básica e Profissional, das 260 Bibliotecas Cidadãs, das Clínicas da Mulher e da Criança, o governador das casas populares.
Vamos lá, vamos fatiar e examinar cada avançada de sua excelência nas obras do governo alheio, nos resultados das ações do governo alheio.
Segundo dados divulgados pelo IBGE na última semana de janeiro deste ano, desde 2002, a indústria paranaense cresceu bem acima da média nacional. Enquanto o crescimento industrial de meu estado foi de 55, 7 por cento, o crescimento médio nacional foi de 28,9 por cento.
Depois do Paraná, São Paulo, com um índice de 34,3 por cento e Minas Gerais com um crescimento de 32,4 por cento foram os que mais avançaram.
Por que o Paraná cresceu tanto durante o meu governo?
Porque os empresários usufruíram do bom ambiente fiscal proporcionado por uma política tributária inovadora e ousada. Porque, durante todos os dias de meu governo, minha obsessão foi reduzir impostos, trocando os tributos por mais empregos e mais desenvolvimento. Cito exemplos dessa política fiscal:
– diminuição das alíquotas do ICMS; dilação do prazo de recolhimento do imposto, com mais vantagens para quem investisse e gerasse empregos nas regiões menos desenvolvidas do Paraná;
– diferimento das vendas industriais de parte da alíquota -de 18 para 12 por cento;
– imposto zero para as micro-empresas e redução a dois por cento da alíquota para as pequenas empresas;
– dilação do recolhimento do ICMS sobre energia elétrica para as indústrias, a fim de possibilitar a elas aumento do capital de giro;
– redução do ICMS de cem mil produtos de consumo mais freqüente pelos assalariados, logo depois da explosão da crise financeira mundial. Para que não houvesse queda no consumo alimentos, de calçados e tecidos, de produtos farmacêuticos e de higiene, de fogões, geladeiras, máquinas de lavar roupa, máquinas de costura, cortei o imposto de cem mil itens de consumo-salário, par manter a demanda em alta, estimulando a produção e mantendo os empregos.
Além disso, zerei o imposto dos produtos da cesta básica, cortei o ICMS dos materiais de construção, reduzi o imposto sobre a importação de máquinas e bens de produção; cortei o imposto sobre a produção da computadores, sobre a produção de leite, feijão, frangos, suínos, trigo e sobre os produtos da agro-indústria de pequeno e médio portes.
E cumpri uma promessa de campanha: o compromisso de não conceder aos investimentos multinacionais benefícios que não pudessem ser igualmente concedidos aos empresários brasileiros.
Em consonância com os governadores de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul, foi dado outro direcionamento ao BRDE, banco de desenvolvimento da Região Sul do país.
Assim, o banco aumentou em 200 por cento o financiamento de bens de produção, em 70 por cento o financiamento das micro-empresas, O volume final de financiamentos foi 50 por cento a mais que nas gestões que nos antecederam.
A par disso, a Agência do Fomento do Governo do Paraná passou a dar prioridade ao financiamento de micro e pequenos empreendedores, fazendo nascer dezenas de milhares de novos negócios.
Se, de um lado, concedi aos empresários toda sorte de benefícios e estímulos, de outro, instituí o salário-mínimo regional, voltado aos trabalhadores não sindicalizados, sem data-base para reajustes. Hoje, o salário-mínimo paranaense é o maior do país, alcança 350 mil trabalhadores e joga na economia mais de 150 milhões de reais, mensalmente.
Logo, não é nenhuma surpresa que o Paraná tenha sido o estado brasileiro que mais cresceu industrialmente e que, em proporção ao número de habitantes, o que mais criou novos empregos, entre 2003 e 2010, segundo revelam os levantamentos do IBGE e do CAGED.
É aí que adentra a cena o inefável governador do Paraná. Assim que os números do IBGE sobre o crescimento industrial paranaense saíram, em janeiro, sua excelência faz uma pausa em seu ócio e soltou rojões proclamando-se o autor da façanha, o que mereceu reparos até do jornal “Valor Econômico”.
Outra patacoada: em seu discurso na abertura do ano legislativo, no dia dois de fevereiro, sua excelência anunciou que o seu governo batera o recorde na criação de empregos, com a abertura de 157 mil vagas, em 2011.
Sua excelência foi prontamente desmentido pelos números do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados, o CAGED, do Ministério do Trabalho. Em 2011, primeiro ano de ocupação das instalações governamentais por Beto Richa, foram criados no Paraná 123 mil novos empregos. O recorde continua sendo o do último ano de meu governo: 153 mil novos empregos com carteira assinado.
Para obter o número anunciado com fanfarras na Assembléia Legislativa, sua excelência seguiu aquele famoso e infeliz conselho do então ministro Ricupero: esconder o que não é bom.
E como desemprego não é bom, sua excelênc
ia simplesmente desconheceu a coluna de desempregados na estatística do CAGED, somando apenas a coluna dos empregados, daí fantástico número de vagas de trabalho criado pela astúcia oficial, pela desfaçatez palaciana.
A mesma desfaçatez que se viu na assinatura de um protocolo entre o Governo do Paraná e a Renault. O protocolo foi elaborado em meu governo, os incentivos previstos foram negociados pelo meu governo. Pois bem, no dia da assinatura do protocolo, o governador e o trêfego presidente da multinacional francesa, com deselegância, grosseria e despropósito, transformaram o ato em um comício contra o meu governo.
Na verdade, quase toda semana sua excelência expõe-se a esse papel ridículo. Semana antes do Carnaval, por exemplo, sua excelência foi ao interior do Paraná para inaugurar casas, bibliotecas, clínicas para mulheres e crianças, escolas, obras iniciadas em meu governo e agora concluídas. E o que fez sua excelência em cada uma das inaugurações? Fez comícios, criticando-me. Inaugura o que planejei e executei e ousa ofender-me.
Segundo me relatam prefeitos, vereadores e amigos do interior, essas inaugurações chegam a ser cômicas, quando não constrangedoras. Ele vive de inaugurar o que fiz, porque em um ano nada fez, e aproveita a inauguração para desancar o autor das obras que inaugura. E para mudar o nome das obras que inaugura, apropriando-se da autoria.
Dou um exemplo: inspirado na Pastoral da Criança da doutora Zilda Arns, com quem tínhamos uma ótima parceria, lancei o programa das Clínicas da Mulher e da Criança, para combater a mortalidade materno-infantil.
Construí e inaugurei 130 dessas clinicas e deixei por inaugurar mais de cem. E que fez o governador? Ele mandou repintar as clínicas, mudando o padrão de cores e mudou o nome das unidades.
E em cada inauguração dessas clínicas, faz discursos desancando-me. Um pândego. Aliás, há dezenas dessas clínicas prontas e à espera da inauguração. Mas parece que sua excelência não tem tempo nem para inaugurar obra já pronta.
E agora que o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, o IPEA, destaca os avanços havidos no Paraná entre 2003 e 2010, o governador que não faz nada só faz críticas, agita-se para tirar mais uma casquinha e pousar para foto.
Segundo o IPEA, no meu governo, a pobreza extrema no Paraná foi reduzida de 7,1 por cento para 2,3 por cento. A renda média familiar passou de 533 reais para 735 reais. A mortalidade infantil foi reduzida em quase sete pontos percentuais. O número de jovens universitários ou formados, com idade entre 18 e 24 anos, praticamente dobrou. E assim por diante.
Enfim, ótimos números para o governador que não faz nada se apropriar.
Na verdade, até agora, a grande obra se sua excelência foi promover uma licitação para gastar mais de 200 milhões de reais em propaganda. Eu fico cá pensando: para divulgar o quê?
Senhoras e senhores senadores. No primeiro discurso que fiz neste plenário, na reabertura dos trabalhos, supliquei que os céus premiassem o governador do Paraná com o mesmo estalo que desembotou o cérebro do padre Antônio Vieira. Até agora, nada. Minhas piedosas e insistentes súplicas não foram atendidas. Mas ainda sou esperançoso: quem sabe se de uma hora para outra obra-se na cabeça do governador o mesmo prodígio que transformou Vieira no formidável orador e escritor. Quem sabe, de repente, em um susto, sua excelência não tenha a cabeça desanuviada e comece, finalmente a governar o Paraná.
Faço fé, tenho fé.