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Discurso do Senador Requião que pede “Estalo de Vieira” ao Beto Richa

O primeiro biógrafo do padre Antônio Vieira, o também padre jesuíta André de Barros, no livro lançado em 1746, conta que o futuro genial pregador era, na infância, um tanto quanto parco de inteligência. Aluno limitado, Vieira tinha grandes dificuldades para assimilar as lições. Enorme, no entanto era a sua devoção à Virgem Maria, a quem suplicava luzes, entendimento. Certo dia, rezando à santa, “inflamado todo em desejo de saber”, o menino Antônio Vieira teve um estalo, de repente algo como que se arrebentou em sua cabeça, explodiu. O estalo “foi tão forte que lhe parecia que morria”, conta o biógrafo. Passado o estupor, eis que o cérebro de Vieira desanuvia-se, desembota, ilumina-se, vão-se as dificuldades, desaparece o aluno medíocre e começa a nascer o mais extraordinário de nossos oradores sacros, o mais escorreito escritor da língua portuguesa. Daí, por séculos, a expressão estalo de Vieira incorpora-se ao uso corrente, para significar a repentina, miraculosa iluminação da ignorância pelo entendimento, das trevas pela luz, da estupidez pela inteligência, da pasmaceira pela agilidade. Confesso que gostaria de ter a mesma fé do rapazote Vieira, na Virgem Santa, no Deus todo poderoso para encomendar-lhes alguns estalos de Vieira. Não para mim, que estou bem servido com o que me obsequiaram a natureza e os céus, e sim para alguns governantes um tanto parvos, tão incapazes no ofício de administrar, que bem lhes cabia aquele estalo famoso. Para um, especialmente, encomendo as minhas orações, com fervor e urgência suplico a graça do atendimento, peço com insistência que se lhe estale a cabeça, como a de Vieira, abrindo-a para a realidade e complexidade das coisas, para a responsabilidade e a sabedoria de bem governar. Peço, suplico, insisto, oro com piedade e contrição que se estale a cabeça do governador do meu estado, Carlos Alberto Richa, também dito Beto, como querem os íntimos e outros nem tanto. Se a providência transformou o parvo meninote Antônio Vieira no orador, pregador e escritor sem par, por que não haveria de obrar o mesmo prodígio com a cabeça do governador do Paraná? Como homem de fé, acredito no milagre. Dado o estalo –que seria um ribombo de grande sonoridade, acredito- o governador abriria os olhos e veria que, um ano depois da posse, não fez nada, rigorosamente, absolutamente, verdadeiramente nada. Sua cabeça estalada revelaria que a excelência apenas se ocupou em inaugurar as obras que deixei prontas ou em vias de conclusão, em retirar placas com nomes de outros governadores, em mudar nomes dos programas de governo. Estalada a cabeça do governador, desemburricada e esperta, à sua excelência seria dada a revelação que governar não é comprar aviões. Escampada, desobscurecida pelo estalo, a cabeça do governador passaria a compreender que governar não é privatizar, terceirizar, repassando a empresas privadas responsabilidades tão específicas do Estado como a educação, a saúde, o saneamento básico. Além do que, refrescaria sua memória, relembrando-o das fervorosas promessas de campanha de não privatizar, não terceirizar, não subir as tarifas. Estalada, e desentalada dessa baboseira neoliberal que denominam choque de gestão, a cabeça do governador descobriria o enorme descompasso entre seu discurso modernoso e a prática de seu governo. Se não vejamos: não recomendam os teóricos do tal choque, cortar pessoal, diminuir funções, comprimir salários, desidratar a estrutura estatal, evitar o compadrio e o nepotismo nas indicações, profissionalizando-as? Como então, oh Minas Gerais!, explicar que excelência paranaense criou mais cargos comissionados, dobrou os salários dos comissionados, criou duas supersecretarias de Estado, prebendando o seu irmão com uma delas? Cortar gastos? Como então se, para divulgar-se, sua excelência pretende gastar, em propaganda, em nove meses deste ano, 180 milhões de reais, afora o que vão gastar as estatais e autarquias, como a Sanepar, Copel, Porto de Paranaguá, e mais, e mais e mais….. É tanto dinheiro em propaganda que fico pensando: choque de gestão é isso, muito, mas muito dinheiro em propaganda para que a opinião pública fique achando o governador lindo, maravilhoso, chocante, como diziam os jovens pouco tempo atrás, ou talvez ainda digam, não sei. O pior de tudo é que a nossa mui valorosa Assembléia Legislativa pouco contribui para favorecer o estalamento da cabeça do governador. Pelo contrário, adula-o, mima-o, lisonjeia-o, incensa-o. Da mesma forma, os meios de comunicação, são tão cegos à inação ou às desviadas ações de sua excelência quanto pródigos em elogios à roupa nova do rei. E aqui me ocorre um sermão do padre Antônio Vieira -com a cabeça já devidamente estalada- sobre o mal que os aduladores fazem aos governantes. É o “Sermão da Primeira Sexta-Feira da Quaresma”, pregado em Lisboa, na Capela Real, em 1649, e tido por alguns como um dos mais sublimes e eloqüentes sermões de Vieira. Diz o pregador : “Entre os políticos, Xenofonte, Tácito, Cassiodoro; entre os historiadores, Tito Lívio, Suetônio, Quinto Cúrcio; entre os filósofos, Sêneca, Plutarco, Severino Boécio; entre os santos padres, Jerônimo, Crisóstomo, Gregório, Agostinho, Bernardo, todos, só com discrepância no encarecimento, dizem e ensinam, concordemente, que os inimigos dos reis, e os maiores inimigos, são os aduladores”. Citando Santo Agostinho, Vieira diz que o bispo de Hipona ensinava que há dois gêneros de inimigos dos governantes, “uns que perseguem, outros que adulam” e que se há de temer mais “a língua do adulador que as mãos do perseguidor”. De Pitágoras, recolhe este ensinamento a quem governa: “Gosta antes dos que te argúem, do que dos que te adulam, e tem maior aversão aos aduladores que aos inimigos, porque são piores”. E Vieira lembra a recomendação de outro filósofo grego, Sócrates: “ À benevolência dos aduladores dá-lhe logo as costas, e foge deles como de inimigos”. “É benção ou fatalidade” dos governantes que tudo o que fizerem ou quiserem, “ainda que não seja louvável, seja louvado”, diz o padre Antônio Vieira. Ele exemplifica: “Se o rei, como Saul, tomar para si os despojos de Amalec consagrados a Deus, e os aplicar a usos profanos, te laudabunt “, louvamos-te, dizem os palacianos. “Se o rei, como David, por simples informação suspeitosa, singular, e sem nenhuma legalidade, privar do patrimônio a Mefiboseth, e o der ao seu criado Siba: te laudabunt. Se o rei, como Salomão, para edificar soberba e deliciosamente o bom ou mau retiro do Líbano, derrubar as casas dos poucos poderosos, e queimar as choupanas dos miseráveis: te laudabunt. Se o rei como Roboão (….) acrescentar tributos sobre tributos (…..) te laudabunt. E quem são os panegiristas destes louvores? pergunta Vieira. Ouçam senhores deputados do Paraná, ouçam senhores da mídia o que responde o pregador sobre quem são os que louvam os governantes: “ Não são os que padecem o dilúvio fora da arca, não são os que moram e morrem fora das paredes do palácio “ senão os que vivem à sua sombra e de seus favores. Estes, diz Vieira, “são os que louvam o que não deveriam louvar, e aplaudem o que não deveriam aplaudir, e ajudam o que deveriam estorvar”, atentos somente a não desgostar ou entristecer o governo. No entanto, Vieira faz uma agudíssima ressalva. Diz ele: “Eu bem creio do bom entendimento de alguns, que no mesmo tempo em que louvam e aplaudem com a boca, gemem e choram com o coração. Nem eles deixam de o confessar assim, onde não é perigoso o sigilo. Mas como servem mais ao próprio interesse que ao rei, esta covarde dependência lhes equivoca a dor com a alegria, e o coração com a língua”. Continua o padre: “Uns autores comparam estes aduladores ao camaleão, que não tem cor certa nem própria, se reveste e pinta de todas as cores, quaisquer que sejam as do objeto vizinho. Outros os comparam à sombra, que não tem outra ação, figura ou movimento, que a do corpo interposto à luz, do qual nunca se aparta, e sempre e para qualquer parte o segue”. No entanto, Vieira considera que a melhor comparação do governismo idólatra e interesseiro foi feita por Santo Agostinho, que comparou os bajuladores com o eco: “O eco sempre repete o que diz a voz, nem sabe dizer outra coisa; e onde as concavidades são muitas (os corredores palacianos, legislativos e ministeriais , diria eu), é cena verdadeiramente aprazível ver como os ecos se vão respondendo uns aos outros, e todos sem discrepância dizendo o mesmo. O que disse a primeira voz , é o que todos uniformemente repetem”. Enfim , senhoras e senhores senadores, além de pedir que se estale a cabeça do governador, que se lhe abra o cérebro ao entendimento das coisas, rezo também, suplico e imploro que se estalem as cabeças dos deputados estaduais do Paraná, especialmente os de meu partido, o PMDB, que estão cometendo tudo aquilo que Vieira aconselhou se repudiasse. Em um outro sermão famoso, o “Sermão do Primeiro Domingo do Advento”, também pregado na Capela Real, em Lisboa, em 1650, o padre Antônio Vieira fala sobre o pecado da omissão. Do pecado da omissão e do pecado das conseqüências da omissão, destaca ele. Mais uma vez diante de governantes, ministros e legisladores, repta-os: “Sabei, cristãos, sabei príncipes, sabei ministros, que se vos há de pedir estreita conta do que fizestes; mas muito mais estreita do que deixastes de fazer. Pelo que fizeram, se há de condenar muitos, pelo que não fizeram, todos. “ E prossegue: “O último pecado e a última disposição por que se hão de condenar os precitos (isto é, os réprobos, os malditos), é a impenitência final; e a impenitência final é o pecado da omissão”. E ele desce a “exemplos mais públicos”, assim: “Por uma omissão perde-se a maré, por uma maré perde-se uma viagem, por uma viagem, perde-se uma armada, por uma armada perde-se um Estado; dái conta a Deus de uma Índia, dái conta a Deus de um Brasil-perdido- por uma omissão. Por uma omissão perde-se um aviso, por um aviso perde-se uma ocasião, por uma ocasião perde-se um negócio, por um negócio perde-se um reino; dái conta Deus de tantas casas (….), de tantas vidas (….), de tantas fazendas (…..) de tantas honras –perdidas-, por uma omissão”. Quão arriscado é o ofício dos governantes, exclama Vieira. Estão eles lá, diz o pregador, estão eles lá “sem fazer má obra, sem dizer má palavra, sem ter mal nem bom pensamento e talvez n’aquela mesma hora, por culpa de uma omissão, estão cometendo maiores danos, maiores estragos, maiores destruições que todos os malfeitores do mundo em muitos anos (….) por isso mesmo, são as omissões os mais perigosos de todos os pecados. A omissão é o pecado que com mais facilidade se comete, e com mais dificuldades se conhece, e o que facilmente se comete e dificultosamente se conhece, e raramente se emenda”. Pecados de governantes e pecados dos bajuladores, dos aduladores, daqueles que, acima de tudo, têm em conta os seus interesses, mandando às favas os escrúpulos, os princípios e a palavra dada, aqueles que buscam atrair sobre si e para si olhos e os favores do poder e se fartam das lentilhas traiçoeiras. Prodigiosa, sublime a cabeça de Vieira depois de estalada. De quanta atualidade os seus sermões. E é por isso que rezo, é por causa disso que clamo, invoco, imploro que os céus estalem também a cabeça de nossos governantes, todos, especialmente a do famoso mandatário de meu estado. E que, de cambulhada, em profusão produzam-se milagres por atacado, estalando as cabeças dos nossos deputados de nossos senadores, dos congressistas todos, notadamente os de meu partido. Quem sabe para realçar o portento do estalo, atribuindo ao milagre uma dimensão fantástica, tanto as lendas sobre o prodígio, quanto os biógrafos do ilustre jesuíta carregam nas tintas sobre a tacanhice, a estreiteza dos conhecimentos de Vieira, as parcas prendas com que foi dotado na meninice. Isso me anima e me enche de esperança. Por mais dura e impenetrável que pareça a cabeça, por mais obtuso que seja o cérebro, por mais obliterados que estejam os neurônios, resta sempre a esperança do estalo. É o que desejo ardentemente que aconteça ao governador do Paraná, a par de alguns estalidos na nossa bancada do PMDB.