Qual o projeto de país definido pelo arcabouço? *Gilberto Maringoni* outraspalavras.net/mercadovsd… Leia com atenção!

Ano passado from Roberto Requião's Twitter via Twitter for iPhone



Dois anos de desgoverno – o que fazer agora?

A direita é uma só, em essência, posicionem-se seus atores no centro, no meio ou no extremo do palco haverão de ser, sempre, inimigos das classes populares e de um país soberano, desenvolvido e justo.

Talvez não haja mais a acrescentar, depois da belíssima sequência de artigos sobre o tema publicada no site A Terra é Redonda. O governo do dito cujo foi dissecado à última vírgula. Pouco resta, para os que chegam agora à carcaça tão competentemente descarnada.

Então, ao estilo do indigitado, perguntaria: e daí? Enfim, o famosíssimo, atualíssimo, imprescritível o que fazer? É disso que senti falta. De uma animada e incandescente discussão sobre como pegar o touro à unha, botar a mão na massa, agitar, mobilizar, organizar, educar. Dar ritmo e celeridade à Revolução Brasileira.

Diriam: mas não somos um partido, isso é tarefa de um partido. Perguntaria: há partidos? Há partidos verdadeiramente integrados à realidade de vida da nossa gente, entranhados lá nos bairros populares, ativos nas fábricas, nas lojas, nos bancos, nos escritórios, nas escolas, nas igrejas? Há partidos que se ocupem de outras tarefas que não as eleitorais? Há partidos que não sejam essencialmente máquinas eleitorais? Há partidos que se dediquem à mobilização, organização e educação das massas populares?

(Talvez ressalvasse aqui o PCB, o Partidão, que desde a sua dramática reorganização nos anos 90 deixou o eleitoralismo (e o reformismo) de lado, retornando às suas origens classistas e revolucionárias. Se o PT primigênio herdou algumas dessas características, isso é passado.)

É possível que se reúna hoje no país uma das mais brilhantes gerações de analistas, teóricos, cientistas sociais, filósofos, jornalistas das últimas décadas, mentes desafiadas e aguçadas pelas desgraças que despencaram sobre o país nesses últimos anos. Estão aí, para demonstrar isso, textos do aterraeredonda.com.br e dessa profusão de sítios, blogues, jornais e revistas eletrônicas e coisa e tal. Alvíssaras. Mas, cadê as massas?

Não, por favor, não! Não pretendo discutir aqui o papel dos intelectuais e aquela xaropada toda. Só queria saber que raios de espaço reservamos às massas populares, aos trabalhadores brasileiros em nossos esplêndidos diagnósticos. Quando vamos trazê-los à cena, ao protagonismo para que nossa avidez pelo impeachment do assinalado e pelo aniquilamento do fascismo e suas coortes de imbecis não continue sendo mais um movimento nefelibático?

(Quantas vezes, nessas últimas semanas, lemos, ouvimos dizer, cochicharam das coxias que agora vai? Que o impedimento do designado são as tais das favas contadas? Certamente mais vezes de que o São Paulo FC seria campeão.)

Sim, é claro, não somos um partido ou dirigentes de um partido. Sim, é claro, não somos líderes de massas. Mas somos mulheres e homens que pensam. Então, não dá para a gente dar uma pensadinha sobre o assunto?

Já fiz essa proposta. Sugeri que, no contexto da formação de uma Frente Nacional, Democrática e Popular, além da adoção de um programa mínimo que nos unisse, que a Frente também contribuísse para e se ocupasse da mobilização, organização e educação das massas populares, em colaboração com os partidos e demais integrantes do bloco.

A Frente não é um partido, não os substitui e nem se expressa através de um único partido. Mas, sendo ela a convergência política organizada de partidos, de entidades representativas de classes sociais, de categorias profissionais, de sindicatos e assim por diante, deveria estabelecer uma agenda comum de debates, conferências, seminários, cursos. Enfim, a sempre alardeada e nunca consumada elevação do nível político e cultural das massas populares. E ações de organização, que uma coisa sem a outra é nada.

A Frente que proponho não é uma frente de oposições e muito menos uma frente eleitoral ou essa contrafação com que alguns sugerem e sonham, reunindo os golpistas de 2015/16, os canalhas da escolha muito difícil, o arrivista da ressignificação da política, os que votaram em branco ou anularam o voto em 2018, os ex-validos do bolsonarismo, os que repudiam o celerado, mas defendem as abomináveis reformas.

É claro, uma assembleia de oportunistas, carreiristas e adventícios assim não haverá de ter compromisso com a educação e a organização popular, com a Revolução Brasileira, por fim. O máximo que conseguem alcançar é a eleição de 2022 e topa tudo, e mais um pouco, para vencê-las.

(Certamente haverá quem levante a mão, peça um aparte e me acuse de radical, de sectário, dogmático – ou do que seja nessa linha – por excluir tanta gente boa de um possível bloco de todos contra o famigerado. Mas, o que os sensíveis senhores querem mais radical que a reforma trabalhista, que nos fez regredir ao século XIX? Que a crueldade da reforma previdenciária? Que a imposição de limites severíssimos para os gastos em saúde, educação, saneamento, segurança? Que a cessão do pré-sal? Que a emersão do submundo ao primeiro plano da vida nacional? Que a criminalização do pensamento? Que a guerra contra a cultura e a civilização? Que esse morticínio que já levou mais de 220 mil vidas brasileiras, provocado por negligência, negacionismo, incompetência, estupidez e crueldade? Quem contribuiu para isso, de forma consciente, de caso pensado e pesado, sem qualquer coação, merece afagos e saudações de boas-vindas nesse lado de cá?

Quer dizer que eles não ouviram os discursos de cervejaria do nominado, suas contas de quantos assassinar, as homenagens ao torturador, o ódio aos valores básicos da civilização, sua absoluta, assustadora, aterrorizante falta de empatia? Foi uma surpresa – como o cabo austríaco surpreendeu os alemães e o mundo – quando o referido abriu a boca no dia 1º de janeiro de 2018? Radical eu, hein!?).

Fechado o parênteses, voltemos ao texto. Frequentemente, tenho deblaterado a obsessão nacional pelo curto prazo. Os voos de galinha na economia, na política e nas ideias. Macroeconomia de curto prazo, política de curto prazo, ideias degradáveis. Uma frente eleitoral sem um programa mínimo que, entre outras coisas, se comprometa com a revogação de todas as medidas antinacionais e antipovo tomadas desde 2016, é mais um movimento com essa característica de fast-food. Não leva nada. Pode até ganhar uma eleição. Mas não muda o país.

É isso o que queremos?

(Essa história de aprender com os erros não é coisa que se exija ou se proponha aos machões de nossa política. Primeiro, porque nunca erram; depois, porque autocrítica é coisa para os fracos. Outra coisa: eu acho uma graça quando buscam distanciar certa direita, dita palatável e liberal, da direita apontada como radical ou extrema. Qual a diferença, nessa pátria nada gentil, entre uma e outra? Tivemos, em algum momento de nossa história, alguma coisa que pudéssemos chamar de liberalismo, aos moldes europeus, por exemplo? Lá atrás, nos primórdios do país, os nossos liberais eram escravocratas, racistas e eugenistas. Hoje, continuam escravocratas, racistas e eugenistas, pois o que são as reformas trabalhista, da Previdência, o teto de gastos -e o que mais vem por aí nessa linha- que a reintrodução da canga sobre o nosso povo? Quem matou Getúlio, quis impedir a posse de JK e de Jango, sabotou as Reformas de Base? Os nossos liberais. Quem formou a orquestra do golpe de 64? Os nossos liberais. Quem deu os argumentos sórdidos, infames para o golpe de 2015/16? Os nossos liberais. Quem favoreceu – por omissão, palavra e obra – o voto no aludido em 2018? Os nossos liberais. A direita é uma só, em essência, posicionem-se seus atores no centro, no meio ou no extremo do palco haverão de ser, sempre, inimigos das classes populares e de um país soberano, desenvolvido e justo.)

Mas, não chegaria ao ponto de dizer que nunca, em qualquer hipótese seriam possíveis entendimentos táticos com os liberais. Contudo, nada mais que isto: circunstâncias, eventualidades. No caminho das transformações viscerais da realidade nacional, nas tortuosas e ásperas trilhas da Revolução Brasileira serão o que são: inimigos do povo e da Nação.

Para concluir, voltando ao começo: não vamos dobrar a próxima esquina, no caminho pelas transformações do país, sem a mobilização, educação e organização das classes populares. Vamos conversar sobre isso?

Roberto Requião

Aos Economistas: Economia Política de Bismarck a Paulo Guedes e o governo Bolsonaro

Caros Economistas,

Vivemos tempos de instabilidade e de extrema complexidade. É um tempo de declínio de propostas políticas abrangentes tendo em vista o reflexo no plano ideológico das contradições do mundo real. Mas é também um tempo de renascimento e recuperação das ideias originais do Estado Moderno sobre as quais somos desafiados a construir um novo momento da modernidade. Quero falar sobre isso para vocês, economistas, reconhecendo na dinâmica econômica, como fez Marx, o eixo do desenvolvimento das sociedades capitalistas e do imperativo de sua evolução.

Por que disse que propostas abrangentes estão em declínio? Basicamente porque, à esquerda ou à direita, elas geralmente perderam o contato com o povo – ou nunca tiveram, como é o caso da direita – e se tornaram um catecismo vago e um exercício intelectual apenas de análises teóricas voltado para si mesmo. Enquanto ideologia, não há mais uma esquerda: há diferentes correntes políticas e sociais comprometidas de alguma forma com a justiça social, cada uma delas focada num tópico específico de interpretação dos mestres ou, nos casos mais ingênuos, fantasiando a realidade.

Enquanto ideologia, não há uma direita organizada: há demandas e imposições específicas de diferentes frações das classes dominantes, cada uma voltada para seu próprio interesse, indiferentes ao sentido unificador de Nação e mais recentemente agarradas ao guarda-chuva intelectual da globalização indiferenciada, que esmaga os interesses concretos do povo.

As contradições ideológicas, que se refletem na vida real, repercutem na própria semântica: a direita, em outro tempo, era conservadora – isto é, conservadora de seus privilégios; hoje, tornou-se reformista, ou seja, negadora dos direitos sociais conquistados historicamente pelos trabalhadores. Já a esquerda tradicionalmente era reformista – reformadora das estruturas injustas da sociedade, em busca de afirmação de direitos; agora tornou-se conservadora, isto é, conservadora dos direitos tradicionalmente conquistados ao longo de um século e hoje furiosamente agredidos pela direita.

Não estou falando apenas abstratamente. Estou falando também do Brasil recente. O que levou o país a tirar da garrafa o gênio do impeachment se não um distanciamento em relação ao povo dos que se opunham a ele? Claro, a decisão foi do Congresso. Entretanto, o Congresso suportaria a pressão de um milhão de pessoas nas ruas das principais cidades brasileiras? Perdemos, as esquerdas e os progressistas, unidos, todas as votações dos projetos da infame Ponte para o Futuro do Governo Temer. Acaso teria acontecido isso se tivéssemos arrastado para rua milhões de pessoas do povo, contra aqueles projetos anti-povo e anti-nação?

A direita tradicional não precisa de povo. Move os cordões nos bastidores e manipula a mídia. Quem precisa do povo são os que lutam pela justiça social, esquerdistas e progressistas, que só conquistam direitos na base da pressão social. Entretanto, lamentavelmente, cortamos a conexão com o povo e a cidadania, na suposição de que basta estarmos certos e termos boas intenções para o povo nos acompanhar, e lutar efetivamente conosco. Não. Nós temos que provar ao povo, de alguma forma, que as propostas que defendemos em seu nome correspondem a suas expectativas concretas, refletindo ideias capazes de se efetivar na vida e não apenas ideologias românticas.

É fato que, nas eleições do período pós-redemocratização, houve mais do que simples demagogia para as vitórias eleitorais presidenciais. A demagogia não basta. O que a torna suficiente é condição objetiva da maioria da sociedade. Collor aproveitou do Governo Sarney uma hiperinflação galopante que triturava a renda dos menos afortunados, a qual ele soube capitalizar na campanha. Fernando Henrique capitalizou na campanha o sucesso inicial do Plano Real. Lula se beneficiou de uma crise financeira e inflacionária do governo FHC. Ambos se reelegeram em razão de algum bom desempenho à vista do povo.

Nada, porém, é mais pedagógico do que estou dizendo do que a vitória de Bolsonaro. Não tinha programa eleitoral, plano de governo, estratégia consistente, equipe coerente, ideologia unificadora. Ganhou. O que vemos hoje é a consequência absolutamente previsível de um fenômeno demagógico assentado nas piores condições sociais que temos tido há décadas. As eleições se deram numa condição do país em que praticamente um terço da população ativa estava, e está, ou desempregada ou subempregada. Outro tanto são os trabalhadores precários da reforma do Temer. A queda acumulada do PIB no período Temer chegou a 8%, o que teve efeitos perversos nas receitas dos Estados degradando os serviços públicos por toda a Federação.

Curiosamente, o debate eleitoral ignorou o pai do desastre brasileiro, o governo Temer. E Bolsonaro, concentrando-se em aspetos tópicos da situação, como corrupção e moral, conseguiu uma vitória significativa. Com um discurso político e econômico sem qualquer coerência, ganhou por ter captado o sentimento da opinião pública que pode ser traduzido na forma de um desabafo: se tudo que está aí é democracia, gerando desemprego, corrupção e o rótulo midiático de petismo, apontado como a matriz de todos os nossos males, por que não experimentar alguém novo, mesmo que o chamem de fascista?

Vou poupá-los de uma análise sobre o que acho do governo Bolsonaro. Esperarei para que haja governo. Até o momento, além das patacoadas, o que se desenha é uma articulação de interesses das classes dominantes para acabar a obra de Temer na entrega do pré-sal, na liquidação de estatais, na privatização da previdência pública no esmagamento dos salários. Uma análise superficial mostra que a esmagadora maioria das medidas anunciadas é de caráter contracionista, o que nos remete a mais um ciclo de contração do PIB e do emprego a iniciar-se já a partir deste ano.

Diante desse quadro sombrio temos que ter frieza para articular uma alternativa. Não uma alternativa a este governo, condenado à degradação precoce, mas uma alternativa ao condomínio de poder que esmaga a sociedade brasileira sob o tacão da banca, da mídia manipuladora e do grande capital que está voltando aos tempos da escravização do trabalho em nome da chamada globalização. Essa alternativa não pode se limitar ao plano ideológico. Deve se estender a ideias constituintes da democracia moderna e que, ao longo do tempo, e sob pressão social, criaram condições objetivas para a melhoria de vida das massas mesmo sob o capitalismo.

Nossa primeira proposta, creio eu, é a radicalização da democracia. Não como abstração, mas como instrumento de defesa e de ampliação dos direitos sociais, notadamente, no momento atual, os previdenciários.

A Previdência Social, como sabem, é uma obra original de Bismarck no século XIX. Um dos maiores estrategistas da história moderna, ele percebeu que a onda socialista na Europa acabaria por criar instabilidade política na Prússia caso os trabalhadores não fossem providos de um mínimo de segurança social. Precursor do movimento fabiano inglês, da social democracia do Norte da Europa e do Plano Beveridge (1942), este muito mais amplo, a reforma social prussiana de alguma forma começou a responder a uma questão fundamental para as democracias capitalistas: se o fundamento da democracia é a propriedade privada, como está nas primeiras convenções da Revolução Francesa e na Constituição americana, o que fazer com os que não tem propriedade quando adoecem ou não podem trabalhar? (J.Fichte)

Anarquistas, socialistas utópicos, como os chamava Marx, socialistas marxistas, fabianos, cada um a seu modo tentaram resolver essa contradição, ora pregando a destruição da propriedade privada (anarquistas), ora pregando uma evolução humanizadora do capitalismo (utópicos), ora propondo a estatização dos meios de produção (não da propriedade privada em geral). A questão central, para todas essas perspectivas, estava relacionada com o lugar do trabalhador numa economia capitalista. E a única resposta possível, com ou sem revolução, seria assegurar trabalho remunerado aos não proprietários. Em termos contemporâneos, o pleno emprego.

A revolução como fenômeno do capitalismo maduro perdeu força com a evolução do próprio capitalismo. Surgiu, sim, num país atrasado industrialmente, a Rússia, e tardiamente na China, no Sudeste Asiático e em Cuba, violando as predições do próprio Marx. A tentativa revolucionária na Alemanha industrial em fins da Primeira Grande Guerra fracassou num banho de sangue. Aparentemente, o determinante da revolução eram as condições objetivas do povo, não uma maturidade ideológica que, em teoria, deveria ser produzida pelo desenvolvimento industrial.

Olhando o que acontecia na Europa e projetando para o resto do mundo, foram Kautsky e Bernstein, os grande teóricos originalmente marxistas do início do século XX, que identificaram o fundo da questão. Vendo a emergência de classes médias cada vez mais afluentes, concluíam que era vão acreditar que uma vanguarda operária restrita seria capaz de convencer as massas a uma aventura revolucionária nos países industrializados avançados, desafiando inclusive as Forças Armadas, tendo em vista suas perspectivas concretas de melhorar de vida no capitalismo. Foram acusados de “revisionistas”.

Os “revisionistas” estavam absolutamente certos. Não porque a revolução fosse impossível, mas porque era desnecessária nos países avançados aos olhos das dominantes classes médias no plano político. O momento de inflexão foi o New Deal norte-americano e o Novo Plano alemão, nos anos 30, enfrentando o maior desastre do capitalismo em toda a história. Ali não estava naufragando apenas a classe trabalhadora, mas as classes médias em geral, todas sucumbindo na degradação de suas condições de vida. Na Grande Depressão, o governo Hoover deixou quebrar tudo, sobretudo os empregos. Coube a Roosevelt, a partir de 33, salvar a Nação com o que seria o mais ambicioso programa de geração de emprego da História.

A Europa Ocidental uniformizou suas políticas sociais no pós-guerra. Havia dois motivos para que as elites políticas locais empreendessem a revolução social pacífica que colocou a região na vanguarda sócio-econômica da humanidade. Ambos alimentados pelo medo. Primeiro, o medo de uma revolução socialista “madura” tendo em vista o sentimento de revolta do povo pelas consequências de uma guerra que não provocou. Segundo, o medo do suporte soviético aos partidos comunistas da região, notadamente da França e da Itália (quase 40% do eleitorado), e de uma eventual invasão “vermelha”.

Sabemos como isso foi resolvido, em geral em favor do povo, dos trabalhadores e das classes médias, por meio de abrangentes pactos sociais. O socialismo democrático, ou socialdemocracia, abriu espaço para uma crescente participação dos trabalhadores e classes médias nas decisões de política econômica e social mediante o estado de bem-estar social. Daí resultou uma crescente acumulação de direitos obtidos pela via parlamentar reconhecidos legalmente, cumprindo com grande eficácia, no plano político, o que Bismarck realizou pela Prússia: arrefecer o ânimo revolucionário das massas mediante concessões sociais que melhorassem suas condições de vida.

É essa marcha histórica que o governo Paulo Guedes, um governo não eleito e que pensa ter plenos poderes para fazer qualquer improvisação econômica no país, pretende reverter. Veremos qual será sua proposta concreta, já que parece ter perdido prioridade nos 100 primeiros dias a reforma previdenciária. Em qualquer hipótese, acredito que, no momento em que for apresentada ao Congresso, haverá mobilização social forte dada a extensão dos brasileiros que serão atingidos.

Para tentar organizar os setores sociais mais ameaçados contra as investidas do atual governo, pretendemos lançar o Movimento Nacional pela Soberania e o Pleno Emprego, entendendo soberania não como algo abstrato, mas sobretudo como instrumento efetivo de política econômica capaz de articular as políticas sociais, notadamente o pleno emprego. Nosso propósito, em âmbito suprapartidário e supra ideológico, é engajar os beneficiários do pleno emprego, dos trabalhadores aos favelados, nas nossas articulações a fim de que ajudem a formular a linguagem da mobilização em torno de propostas concretas no campo dos direitos sociais.

Caros economistas,

Permitam-me uma cobrança. Vocês, ou pelo menos os mais politizados de vocês, nos devem uma posição comum sobre a ameaça sem precedentes que a equipe econômica que assumiu o Governo representa para a sociedade brasileira e o seu futuro. Não falo apenas de neoliberalismo. Falo de ameaças das propostas de um neoliberalismo radical, só vistas sob a ditadura sanguinária de Pinochet, da qual o senhor Paulo Guedes é um discípulo e um admirador, sobretudo na questão da Previdência que quer privatizar.

Por isso, incito a vocês, sobretudo aos que se dedicam à economia política, a lançarem, na forma de um Consenso de Brasília, uma proposta de política econômica socialmente justa e progressista para confrontar o neoliberalismo radical anunciado abertamente. É necessário que ela sinalize uma nova economia política e uma nova política econômica para o Brasil, alternativa ao modelo concentrador de renda, desempregador e socialmente degradante em que estamos vivendo. E deve ser o anúncio de uma nova utopia capaz de mobilizar as massas, colocando como focos a construção de uma economia de bem-estar social conduzida pela ideia do nacional desenvolvimentismo.

Com isso devemos levar ao povo a mensagem de que, no uso de sua soberania cidadã, ele pode ser o agente transformador que garanta aos desafortunados e não proprietários o direito a uma sociedade de bem-estar social, infensa à pilhagem dos neoliberais. Estes estão destruindo não apenas a realidade social nos países industrializados avançados como empreendem retrocessos também entre nós e em outros países em desenvolvimento com medidas concretas de destruição e restrição de direitos e de impedimento da construção de novos. Nossa obrigação, no plano político, é levantar o povo para bloquear essa selvageria social.