Qual o projeto de país definido pelo arcabouço? *Gilberto Maringoni* outraspalavras.net/mercadovsd… Leia com atenção!

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Página Incial

Vigília VIII: Comissão Brasileira Justiça e Paz – CNBB

Comissão Brasileira de Justiça e Paz, ligada a CNBB, fala sobre a “Nova Previdência”, compartilhe,divulgue!

CBJP e a PEC 06/2019: a retórica da reforma e a realidade da desigualdade social

“O Senhor ilumina os cegos, o Senhor levanta os abatidos, o Senhor ama os justos, O Senhor cuida dos migrantes, sustenta o órfão e a viúva, confunde o caminho dos ímpios” (Salmos, 146 8-9)

A iníqua proposta de reforma da Previdência feita pelo Governo Federal, em tramitação na Câmara dos Deputados, é contra os interesses dos segurados e benéfica para empresas e para o sistema financeiro.

Os elogios à proposta divulgados pelos meios de comunicação não são verdadeiros quando dizem que esta Reforma é necessária para o país sair da crise econômica e que sem ela o atual modelo de seguridade social vai quebrar em pouco tempo. Isto é uma falsidade para angariar o nosso apoio. A verdade é outra. A reforma correta de que a Previdência precisa é exatamente o contrário desta que estão propondo.

Esta reforma da Previdência, tem que ser firmemente denunciada, pois é a mais injusta e a mais cruel tentativa de demolição dos direitos dos trabalhadores e segurados, garantidos na Constituição Federal. Se ela vier a ser aprovada, aqueles que hoje dependem do INSS e os que dele vierem a precisar amanhã, estarão sujeitos a se transformarem em indigentes, como já acontece em todos os países em que esta falsa reforma foi feita, como é o caso do Chile.

Ao contrário do que apregoam seus defensores, a proposta de emenda à Constituição nº 06/2019, “quebra” as contas públicas e aumenta as desigualdades. Quase todo o valor de 1 trilhão de reais, que segundo eles vai ser gerado, será retirado dos setores mais vulneráveis. Não apresentaram nenhum cálculo que comprovasse esta poupança, esconderam os estudos feitos.

A causa do chamado “déficit da previdência”, é, na verdade, decorrente dos desvios dos recursos da DRU, “Desvinculação de Receitas da União” e das injustificáveis dispensas de pagamento dos impostos, “desonerações”, sem as devidas contrapartidas sociais e decorrem ainda das milionárias dívidas das empresas para com o INSS que não são devidamente cobradas.

Diferentemente do que insinuam, a Previdência Social, que nas últimas décadas tornou-se um potente instrumento de diminuição das desigualdades e motor da “economia social”, eis que fortalece as economias locais, como tem sido reconhecido em estudos e em depoimentos de prefeitos e governadores, principalmente dos municípios menos desenvolvidos.

A PEC 06/2019 cria, sem nenhum fundamento, regras perversas de transição, obrigam os trabalhadores a contribuírem por muito mais tempo e, aqueles poucos que conseguirem se aposentar, receberão proventos menores do que os que hoje recebem. É uma verdadeira “quebra de contrato”.

As mulheres, os trabalhadores rurais, os idosos, os deficientes e os aposentados por invalidez serão penalizados pela malandragem de cálculos financeiros e pela esperteza contábil de tal reforma. Os homens e mulheres contribuintes deixam de ser pessoas e são transformados em números, servindo aos interesses do “mercado”, isto é, de uma economia desumana.

O Papa Francisco, ao refletir sobre a situação atual dos excluídos, principalmente idosos afirmou: “Em uma civilização em que não há lugar para os idosos ou são descartados porque criam problemas, esta sociedade leva consigo o vírus da morte”.

Assim como venderam a ilusão de que com a terceirização (lei nº 13.429/2017), a aniquilação dos direitos trabalhistas, a PEC 95, os empregos, os salários e os investimentos privados voltariam, agora renovam as vãs promessas para aprovação desta reforma.

Ledo engano. O que se repete a cada crise, é o contrário: a fortuna dos ricos aumenta, na mesma medida em que aumenta a pobreza dos pobres. Essa repudiável realidade é usada para se alegar que a suposta crise, artificialmente gerada, para ser vencida, exige de “todos” muitos sacrifícios. Mas todos sabemos que quem paga no final a conta, são os mais desvalidos. As melhorias prometidas não chegam nunca. De crise em crise, quem lucra são os insaciáveis interesses financeiros.

A Comissão Brasileira Justiça e Paz, organismo vinculado à CNBB, reunida em Sessão Ordinária nos dias 26 e 27 de abril, cumpre seu dever de se colocar ao lado das forças sociais que defendem os interesses dos trabalhadores e segurados que resistem para impedir a retirada “dos pobres do orçamento e da Constituição”. Isto é a luta para impedir que se enfie o dinheiro dos impostos no bolso de poucos abastados.

A Seguridade Social é um direito do cidadão e um dever do Estado, um projeto de nação e não um negócio de compra e venda!

A histórica manifestação unitária das centrais sindicais de 1º de maio teve a nossa solidariedade e queremos compartilhar de novas iniciativas que almejem impedir o desmonte da Previdência pública como maior conquista do povo brasileiro.

Brasília, 06 de maio de 2019
Carlos Moura
Comissão Brasileira Justiça e Paz da CNBB

 

Vigília V: Reforma da Previdência e risco da ditadura institucional

Requião e José Carlos de Assis

Por que um grupo de cidadãos brasileiros tem se esforçado por informar a sociedade, e sobretudo aos pobres, sobre o conteúdo absolutamente perverso da reforma da Previdência pretendida pelo governo Bolsonaro? Seria por razões político-eleitorais? Seria por interesse financeiro pessoal? Nada disso. A razão é simples. Essa pretensa reforma esconde por baixo da aparência técnica mecanismos de destruição da Previdência pública, liquidando direitos sociais dos mais pobres e consolidando privilégios dos mais ricos. Para quem é honesto, trata-se de reagir à pior forma de corrupção, a corrupção introduzida por lei.

É um dever de consciência nosso – seja dos  que cumprem o mandato cristão da caridade, seja dos que seguem os princípios civis de busca de igualdade e de fraternidade consagrados como base da democracia moderna – informar amplamente ao país que esta reforma, se passar, não se esgota nela mesma. Sendo uma  violência contra direitos constitucionais, sobretudo dos mais pobres, abre caminho para a liquidação do que existe de estado de bem-estar social no Brasil e, numa extensão ainda maior,  dos direitos civis, pois haverá, em tese, maioria parlamentar para isso.

Embora a tentativa  de liquidação do sistema previdenciário atual seja uma infâmia em si mesma, suficiente para que se levante o clamor da opinião  pública contra ela, o fato ainda mais grave é que, se a reforma passar, o Parlamento, como observado acima, estará respaldando legalmente uma decisão contrária aos interesses reais da imensa maioria do povo e dando uma espécie de salvo conduto a novas reformas constitucionais contra o que restará do projeto de estado de bem estar social que construímos ao longo de 80 anos.

Paulo Guedes, o mentor da reforma, não esconde seu objetivo de destruição do projeto de estado social brasileiro, consagrado na Constituição. Ele considera isso essencial para que se promova  uma economia eficiente e liberal. As primeiras medidas nesse sentido aconteceram com Temer, na infame reforma trabalhista. Agora é o momento de transformar a Previdência num negócio de ricos, chamado de capitalização. Uma capitalização cujo capital é o sangue e o suor do trabalhador ou do autônomo, sem qualquer garantia quanto aos benefícios futuros.

Reforma desse tipo só se faz na ditadura, como no Chile de Pinochet. E é justamente nesse ponto que a decisão do Congresso tem significado que vai além da  Previdência. Estamos numa situação política  em que o Executivo está claramente contra os interesses do povo. O Judiciário tem estado numa posição ambígua na cúpula, e claramente também contra o povo na primeira  instância. Se o Legislativo for para o mesmo caminho, apoiando por maioria qualificada a reforma, estaremos numa espécie de ditadura institucionalizada que dispensa a participação militar.

Como evitar essa tragédia? O único caminho é derrotar o projeto de reforma previdenciária de Guedes. E não adianta achar que isso seja possível apenas com os votos de parlamentares de esquerda. Parlamentares do centro, e mesmo parlamentares eleitos na onda bolsonarista, de alguma forma podem ser sensibilizados pela realidade social brasileira à margem das duas mentiras centrais de Guedes: que a reforma vai ajudar a relançar a economia e o emprego, e que a reforma acaba com privilégios. Aliás, nesse último ponto, basta perguntar a Guedes: “quais são esses privilegiados? Os beneficiários  da renda mensal vitalícia que passariam a ganhar 400 reais em lugar de um salário mínimo”?

Os parlamentares ainda indecisos precisam ser informados, de forma honesta e num plano  suprapartidário, que o regime de capitalização proposto por Guedes é um engodo. Uma vez adotado, ele expulsaria do sistema previdenciário o regime de partição que caracteriza a Previdência pública. É que, na capitalização, os empresários não contribuiriam para a aposentadoria do empregado. Obviamente, empurrariam os trabalhadores para a capitalização, na qual só o trabalhador contribui. E certamente demitirão, ou não empregarão, os trabalhadores que insistirem em ficar no regime previdenciário público.

Eu ouvi com  meus ouvidos a afirmativa de Guedes segundo a qual o novo regime seria melhor porque daria ao trabalhador a liberdade de escolher entre os dois regimes e de aprender sobre aplicação financeira. Tive vontade de vomitar. Com quase 14 milhões de desempregados e 27 milhões de subempregados na fila de espera de um emprego, qual trabalhador iria contrariar a “liberdade” do patrão de obrigá-lo a entrar no regime de capitalização, seja no primeiro emprego, seja na renovação forçada do antigo?

O destino no Brasil está em parte nas mãos de parlamentares jovens, inexperientes, alguns surpresos ainda hoje por sua eleição para a Câmara  e o Senado. Creio que no mínimo alguns deles considerarão a base social conquistada e poderão se sentir de alguma forma fiéis ao povo, e não como escravos de Paulo Guedes, que acha que pode mudar o mundo com uma caneta, sem ter voto. Contudo, a chave desse processo é o povo, em  si. As instituições que reúnem os oposicionistas estão sob o desafio de furar a bolha que os isolam das periferias a fim de pressionarem a parte honesta do Congresso a rejeitar a reforma da Previdência do Guedes.

 

Vigília IV contra o roubo da previdência

Cortando a carne dos pobres  para dar mais gordura aos ricos:

Requião e José Carlos Assis

Ninguém gosta de privilégio. Eu não gosto. Tenho certeza de que você também não gosta. Acontece que a reforma previdenciária que o governo Bolsonaro anuncia como destinada a acabar com privilégios é simplesmente mentirosa. É uma manipulação da opinião pública. É típica daquela tática nazista de falar tantas vezes uma mentira que ela acaba passando por verdade. Ao contrário de tirar privilégios, a reforma de Guedes/Bolsonaro corta na carne dos pobres para aumentar a gordura dos ricos.

O grande privilégio existente nas relações sociais brasileiras não é privilégio que pode ser atribuído aos pobres porque os pobres, esmagadora maioria da população, pagam mais impostos que os ricos. Os pobres,  justamente por serem pobres, ganham as rendas mais baixas. Já os ricos, também por definição, ganham os maiores salários. E levam esses salários para a aposentadoria ou o sistema de pensões. E é aí que se encontram os privilégios.  O principal deles é o privilégio previdenciário dos militares.

É evidente que os militares tem uma carreira especial e portanto justificam um sistema previdenciário próprio. Mas que não tenham privilégios excessivos. Atualmente, se há um furo no financiamento da Previdência, ele vem das aposentadorias especiais dos militares, sobretudo dos militares de alta patente. E isso, a não ser de forma marginal, não está sendo tocado pelo projeto de reforma. Como disse, os privilégios dos militares se incluem no sistema de cortar a carne dos pobres para aumentar a gordura dos ricos.

Fala-se muito em privilégios nas castas superiores do Executivo, do Legislativo e do Judiciário. Isso também não está sendo mudado pela reforma. O que há é uma consolidação de privilégios conquistados. Daqui para frente, contudo, muita coisa pode e deve ser mudada, não por razões financeiras, mas por razões morais. Entre deputados e senadores, há cerca de 600 parlamentares. Não são eles que quebram a Previdência por dinheiro num país com um PIB de 6,5 trilhões de reais. Mas podem quebrá-la moralmente, ao tripudiar sobre os direitos dos pobres.

Também não são os salários dos funcionários do Executivo e do Legislativo que quebram a Previdência. Todos, acima de determinado nível salarial, pagam por suas previdências complementares. O que  é intolerável no Parlamento é o comportamento de deputados e senadores que desfrutam de altos salários e grande segurança na aposentadoria e que se alinham com a política de Bolsonaro/Guedes de liquidar com a previdência pública, isto é, a previdência dos pobres.

Pois é justamente disso que se trata: acabar com a previdência dos pobres e colocar no lugar dela a previdência a que só tem acesso os ricos. Isto é o que se chama da regime de capitalização: os patrões não mais serão obrigados a contribuir para a previdência dos pobres, e os pobres, se quiserem ter tranqüilidade na velhice, devem tirar do seu salário, mensalmente, uma contribuição em dinheiro para “seu” fundo de previdência, durante nada menos que 40 anos ou até que morra.

Estou colocando entre aspas “seu fundo” de uma forma  não rigorosa. Na realidade, pelo projeto de reforma, esse “fundo” será administrado por uma financeira que não terá nenhuma responsabilidade por garantir um retorno definido ao aplicador. É o que der e vier. Se faltar o cidadão cai na indigência. No nosso sistema atual, de repartição, o patrão contribui, o empregado também e o governo é obrigado a garantir aposentadoria proporcional aos salários e ao tempo de serviço. Na capitalização não. É aí que está o pulo do gato pelo qual um trilhão de reais que Guedes quer arrecadar com a capitalização se transforma numa bolsa  de apostas dos especuladores. Se a especulação levar o fundo a quebrar, adeus aposentadoria e pensão!